sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Filmes Western em Hollywood

No cinema, o western remonta às produções de Kit Carson, de 1903 e The Great Train Robbery, um filme mudo dirigido por Edwin S. Porter e protagonizado por Broncho Billy Anderson. Realizado em 1903, a sua popularidade entre o público da altura granjeou a Anderson o privilégio de se tornar o primeiro cowboy estrela de cinema, como se verificou nas centenas de curta-metragens em que depois participou. Mas, a concorrência não se fez esperar, e William S. Hart tornou-se em breve outro astro de uma arte que dava os primeiros passos.
É interessante verificar que o primeiro filme rodado em Hollywood, em 1910, In Old California, de D.W. Griffith, foi um western. De facto, Griffith é muitas vezes apontado como o grande renovador artístico do género. Outro filme, The Squaw Man, de 1914, em que estreava Cecil B. DeMille, seria o primeiro longa-metragem realizado na "meca do cinema". DeMille transpôs para o cinema, no mesmo ano, a obra pioneira, nos Estados Unidos, do western literário, The Virginian, e teve, mesmo, a colaboração do autor Owen Wister na elaboração do argumento.
O género foi sofrendo uma evolução constante, perante a crescente popularidade da fórmula. Em 1923, James Cruze realizava o primeiro western épico, The Covered Wagon, sobre uma longa viagem pelos territórios selvagens até à Califórnia. Seria no ano seguinte que John Ford faria sucesso com The Iron Horse, sobre a construção do caminho de ferro de costa a costa.
Os estúdios passaram a produzir mais de uma centena de westerns por ano, ainda que a maior parte, formada por humildes filmes B, não seja muito significativa para a evolução do género. Raoul Walsh, com o seu The Big Trail (A grande jornada), de 1930, usou a película de setenta milímetros, que permitia englobar a paisagem fascinante da fronteira ocidental - além de outra aquisição importante: a revelação de John Wayne. No ano seguinte, Cimarron, de Wesley Ruggles, tornar-se-ia o único dos clássicos do género a receber um Óscar para o melhor filme, proeza que só seria mais tarde repetida por Kevin Costner e Clint Eastwood.
A idade dourada do western norte-americano tem como expoente máximo, e de forma quase unânime, o trabalho de dois realizadores incontornáveis: John Ford, que foi o grande impulsionador da carreira de John Wayne, e Howard Hawks. O épico de 1939, Stagecoach (em Portugal, Cavalgada heróica, e no Brasil No tempo das diligências) é, por muitos, considerado um dos melhores westerns de sempre e, mesmo, um dos filmes mais importantes da história do cinema - supostamente, Orson Welles tê-lo-ia visto vezes sem conta antes de realizar a sua obra-prima Citizen Kane (em Portugal, O mundo a seus pés, e Cidadão Kane, no Brasil). Em 1946, Ford filmaria ainda My Darling Clementine (Paixão dos fortes, no Brasil), a saga de Wyatt Earp e Doc Holliday, com o famoso tiroteio no Curral OK - personagens e local reais que se tornaram mitológicos na história do Oeste norte-americano.
Em 1942, William Wellmann realizaria um filme que introduziria, de forma angustiante e com uma profundidade psicológica muitas vezes referida, novos temas e novas perspectivas para o género. The Ox-Bow Incident (Consciências mortas, em Portugal), ao lidar com uma das mais frequentes receitas do western: o linchamento (Brasil) ou a vingança feita na hora, pelas próprias mãos, e a irresponsabilidade de tais actos. É um dos filmes mais tocantes da história do cinema, aproveitando as lições de Ford e antecipando o cinema mais crítico após os anos 60. William Wyler e Fritz Lang, conhecidos noutros géneros cinematográficos, também realizaram algumas obras de referência.
Em 1954 foi lançado Johnny Guitar, que trazia mulheres em papel de destaque, disputando as atenções de um forasteiro. O filme não fez sucesso à época, mas depois entraria para a história do cinema como precursor do destaque feminino nesse gênero.
O revisionismo iniciado na década de 1960 questionou muitos dos temas e características próprias dos westerns; para além da já referida mudança de perspectiva em relação aos povos indígenas, que deixam de ser "selvagens" apenas para serem redimidos na imagem do "bom selvagem", as audiências começaram também a exigir argumentos mais complexos, que não se limitassem ao dualismo simples do herói contra o vilão, além de se começar a criticar o uso indiscriminado da violência como forma de imposição das personagens (porque é que o "bom" tinha de ser melhor que o "mau" no uso do revólver?). Pode-se referir vários filmes que assim se posicionaram: desde o clássico The Man Who Shot Liberty Valance (em Portugal, O homem que matou Liberty Valance, no Brasil O homem que matou o facínora), de John Ford, onde se reflecte sobre a própria temática do western, o uso da violência, bem como a vertente "lendária" deste género de história; passando por Little Big Man, de Arthur Penn, com Dustin Hoffman; bem como os mais recentes Dances with Wolves (Dança com lobos, no Brasil) e Unforgiven (Imperdoável, na tradução portuguesa). Outros deram mais importância ao papel das mulheres, como em Open Range (Pacto de justiça, no Brasil), de Kevin Costner; ou The Missing (Desaparecidas, no Brasil) de Ron Howard. Em 1969, Claudia Cardinale teve, também, um papel importante em Once Upon a Time in the West (Era uma vez no Oeste, na tradução portuguesa).

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